domingo, 10 de abril de 2016

MAESTRO ED LINCOLN



Ed Lincoln nasceu em Fortaleza, no dia 31 de maio de 1932, e aos 19 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde sua música se tornaria conhecida.
Curiosamente, o artista que marcou gerações em bailes e discos tocando órgão, começou a carreira com outro instrumento - sua estreia em disco, em 1955, é como contrabaixista do LP "Uma noite no Plaza", num trio com Luiz Eça (piano) e Paulo Ney (guitarra). Do baixo, ele passou ao piano e, mais tarde, ao órgão, no qual estabeleceu, a partir da década de 1960, sua sonoridade característica: um samba balançado, moldado para os salões. Gravou muitos discos (como "Ao teu ouvido" e "Ed Lincoln boate"), assinando seu nome ou o de conjuntos fictícios como The Lovers e 4 Cadillacs.
Em disco e nos bailes, Lincoln teve a seu lado grandes instrumentistas - como Bebeto Castilho, Durval Ferreira, Alex Malheiros, Márcio Montarroyos, Luiz Alves e Wilson das Neves. O baterista lembra que conheceu Ed Lincoln em 1959, quando chegou à boate Drink. Ambos, então, tocavam na noite, mas só começaram a trabalhar juntos em 1963.
" Fui tocar no conjunto dele e fiquei lá por uns três ou quatro anos. Ele nos ensinava tocando, tinha uma forma de conduzir que era um ensinamento " lembra Wilson. " É uma perda irreparável, um grande músico, de muito bom gosto e sensibilidade.
O conjunto de Lincoln também incluía cantores como Orlandivo, Silvio Cesar e Emílio Santiago, que lançou em 2010 o disco "Só danço samba", dedicado ao repertório do organista. Emílio ressalta títulos que sempre acompanham o nome do organista:
" Era o rei dos bailes, um dos fundadores do samba-rock. Ele escreveu o nome na música brasileira e na história carioca. Com Lincoln, aprendi muito, ele tinha uma sonoridade própria.
Em 1963 - mesmo ano em que havia lançado o histórico disco "Seu piano e seu órgão espetacular", que tinha sua leitura para músicas como "Só danço samba" e "Influência do jazz" -, o músico sofreu um grave acidente de carro que o deixou parado por sete meses. O hiato acabou com o lançamento do disco "A volta", em 1964. Os bailes continuaram ao longo da década, No início dos anos 1970, Lincoln passou a se dedicar mais a jingles e trilhas sonoras. Interessado na tecnologia, chegou a fazer experiências com computadores e música ainda na década de 1980 - em 1988, chegou a gravar um disco, "Toque novo", num microcomputador.
Computadores à parte, a modernidade que sempre acompanhou sua música atraiu gerações mais jovens a partir do início do novo século. Em 2000, mesma época em que a obra de Lincoln começava a chamar a atenção de DJs britânicos, Ed Motta convidou-o para tocar órgão na música "Conversa mole".
" Sempre fui superfã. Tive a honra de ter sua participação no meu disco "Segundas intenções" " lembra Ed Motta. " Fui muito influenciado por ele na minha maneira de tocar piano. A música brasileira perde um grande instrumentista.
Até mesmo o funk carioca bebeu da fonte de Lincoln, regravando no início dos anos 2000 "É o Cid", parceria clássica do organista com Silvio César.
Após décadas longe dos palcos, Ed Lincoln se apresentou em 2003 na série de shows "Sambalanço, a bossa que correu o mundo" e no espetáculo "Saudade fez um samba" - ambos no Centro Cultural Banco do Brasil. Com a saúde debilitada por problemas pulmonares e de coluna (resquício do acidente sofrido em 1963), Lincoln se recolheu em Petrópolis. Em 2007, voltou aos estúdios para gravar uma participação no samba "Sem compromisso", numa colaboração com Marcelinho Da Lua.
O cineasta Marcelo Almeida filmou em 2010 o documentário "Ed Lincoln - O rei do sambalanço", que está em finalização:
" Foi maravilhoso conhecer o precursor do sambalanço. Ele foi extremamente original, criou um gênero " define Marcelo.
Em 2011, a gravadora Discobertas lançou a caixa "O rei dos bailes", com seis dos discos que Lincoln lançou na década de 1960.
" Foi um prazer ter realizado esse trabalho enquanto ele estava vivo " diz Fróes, que lembra que Lincoln trabalhava ativamente em seu estúdio na Lapa até pouco antes de adoecer. " Ele foi muito ativo nos bastidores e, depois que deixou de lançar discos, passou a gravar jingles publicitários, fazer direção artística e arranjos para outros músicos. Era um homem hipertalentoso, sabia muito bem trabalhar com computadores, esteve sempre muito antenado com o tempo em que vivia.
Ed Lincoln
Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia nasceu em 31/5/1932 Fortaleza, Ceará. Instrumentista. Compositor. Arranjador.
Trabalhou no "Jornal do Povo" em Fortaleza como revisor e depois como redator.
Em 1951, mudou-se para o Rio de Janeiro. Começou a carreira artística como contrabaixista e depois passou para o piano e depois para o orgão elétrico.
Na década de 1950, atuou na boate Plaza tocando baixo e piano ao lado de Luiz Eça e Johnny Alf. Fez parte do conjunto de Dick Farney.
Em 1955, formou seu próprio conjunto. No mesmo ano, gravou seu primeiro disco interpretando "Amanhã eu vou", de Nilo Sérgio e "Nunca mais", de sua autoria e Sílvio César.
Entre 1955 e 1958, atuou na boate Drink, no Rio de Janeiro no conjunto de danças dirigido por Djalma Ferreira.
Ainda no final dos anos 1950, acompanhou gravações do iniciantes Claudette Soares e Baden Powell.
Em 1961 gravou os LPs "Ao teu ouvido" e "Ed Lincoln boate", que incluiu "Saudade fez um samba", de Carlos Lyra e Ronaldo Boscoli. Nessa época, exerceu a função de diretor musical da gravadora Musidisc.
Durante os anos 1960 foi um dos mais requisitados animadores de bailes. Ficaram famosas as apresentações da "Domingueira dançante" no Clube Monte Líbano.
Em 1963, lançou o LP "Ed Lincoln - Seu piano e seu órgão espetacular", que tinha como destaques as músicas "Só danço samba", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes; "Influência do jazz", de Carlos Lyra; "Vamos balançar", de Carlos Imperial, "Balansamba", de Luiz Bandeira; "Um samba gostoso", de sua autoria; "Pra que?", de Silvio César; "Tristeza", de sua autoria e Luiz Bandeira e "Olhou pra mim", de sua parceria com Silvio César.
No mesmo ano, sofreu um grave acidente de carro que o manteve afastado das atividades artísticas por sete meses, período no qual foi substituído nos bailes por Eumir Deodato.
No ano seguinte, lançou o LP "A volta". Em suas orquestras atuaram como crooners os cantores Orlandivo, Toni Tornado, Silvio César, Emílio Santiago, Humberto Garin e Pedrinho Rodrigues. Também atuaram em seus conjuntos diversos músicos consagrados, entre os quais Durval Ferreira, Marcio Montarroyos, Luis Alves, Wilson das Neves, Paulinho Trompete e Celinho.
Em 1965, gravou o LP "Órgão espetacular", com destasque para "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, "Locomotion", de Joe Coco; "Mulher de 30", de Luiz Antônio; "Teléco-teco nº 2", de Oldemar Magalhães e Nelsinho; "O amor e a rosa", de Pernambuco e Antônio Maria e "Vivendo e aprendendo", de sua autoria e Silvio César.
No ano seguinte lançou novo LP, que trazia entre outras "É o Cid" e "Se eu tiver", de sua parceria com Silvio César, "O ganso" e "O amor que eu guardei", de sua parceria com Orlandivo e "Querida" e "Eu não vou mais", de Orlandivo e Durval Ferreira.
Em 1967, gravou "O bêbado", "Eu quero ir" e "Eu vou embora", de Orlandivo e Durval Ferreira; "As gaivotas", de sua autoria e "Se você quiser", de Orlandivo;
Em 1968, fez os arranjos para o sucesso "Anjo azul", gravado pela cantora Adriana. No mesmo ano, lançou um de seus LPs de maior prestígio e que trazia entre outros sucesso "Zum, zum, zum", de Silva e Adamastot, "Waldemar", e Orlandivo e Deval e "Choro do bebê", de De Savoya, sendo considerao por muitos historiadores o primeiro LP independente brasileiro.
Em 1971, teve um de seus LPs, que trazia entre outras "O bêbado", de Orlandivo e Durval Ferreira, "Saci Pererê", de Mendes e Terra" e "As gaivotas", de sua autoria, relançado pela gravadora CID. Por essa época, começou a se afastar os bailes e passou a atuar como músico de estúdio gravando gingles e trilhas sonoras além de lançar discos com coletâneas dançantes de sucessos nacionais e internacionais assinados com os mais diferentes pseudônimos, como: Glória Benson, Orquestra Los Angeles e Orquestra Romance Tropical.
Foi um dos primeiros músicos brasileiros a se dedicar à música eletrônica e a fazer experiências com música através de computador. Em 1988, gravou em um microcomputador Commodore 64" o LP "Toque novo", lançado no ano seguinte. Em 1989, lançou pelo selo Elenco/PolyGram o LP "Novo toque", com a regravação de antigos sucessos entre os quais "Ai, que saudade dessa nega", de sua autoria. Em 2000, fez participação especial na faixa "Conversa mole", no CD do cantor Ed Motta. Por essa época, muitas de suas músicas, como "Cochise" e "Se você quiser", passaram a ser presença frequente nas pistas de dança da Inglaterra, dando ensejo a uma onda de pirataria de seus discos fora de catálogo.
Nessa mesma época teve a música "É o Cid", parceria com Silvio César, regravada pela equipe de bailes "Furacão 2000", considerada como o novo "Rei dos bailes" dos subúrbios do Rio de Janeiro. Em 2001, teve a música "Jogaram o caxangá" relançada na coletânea "Samba soul 70 - Rare groove party", do selo belga Ziriguiboom. Em 2002, o selo inglês Whatmusic.com relançou em Cd o LP que trazia entre outras "Zum zum zum", "Waldemar" e "O choro do bebê".
Ficou conhecido no Brasil, a partir da década de 1960, como "O Rei dos bailes". Em 2003, apresentou-se com seu conjunto no projeto "Sambalanço - A bossa que correu o muno" concebido pelo músico Henrique Cazes e apresentado no Centro Cultural Primeiro de Março. No mesmo ano, apresentou no Centro Cultural Banco do Brasil o show "Saudade fez um samba", depois de 30 anos longe dos palcos.
Cerca de dois anos depois, teve problemas de saúde e teve que se afastar da carreira artística morando na cidade de Petrópolis. Em 2007, retomou as atividades gravando em órgão Hammond o samba "Sem compromisso", de Geraldo Pereeira e Nelson Trigueiro para ser incluído no novo CD de Marcelinho da Lua.
Músico foi um dos criadores do gênero sambalanço, fez parceria com Orlandivo e Wilson das Neves e teve Ed Motta e Emilio Santiago como discípulos
O compositor e arranjador Ed Lincoln morreu às 17h30  do dia 16/07/2015 no Rio de janeiro.
Obra
Ai, que saudades dessa nega
As gaivotas
Cumba-iê (c/ Celinho)
É demais
É o Cid (c/ Silvio César)
Já estou aqui (c/ Celinho)
Nunca mais (c/ Sílvio César)
O amor que eu guardei (c/ Orlandivo)
O choro do bebê
O ganso (c/ Orlandivo)
Olhou pra mim (c/ Silvio César)
Quero amar (c/ Durval Ferreira)
Se tiver de ser (c/ Silvio César)
Tristeza (c/ Luiz Bandeira)
Um samba gostoso
Vivendo e aprendendo (c/ Silvio César)
Discografia
([S/D]) Trio Plaza • Rádio • LP
(2002) Ed Lincoln • Whatmusic • LP
(1989) Novo toque • Elenco/PoliGram • LP
(1971) Ed Lincoln • CID • LP
(1969) Ed Lincoln • Independente • LP
(1967) Ed Lincoln - Órgão e piano elétrico • Itamaraty • LP
(1966) Ed Lincoln • Musidisco • LP
(1965) Órgão espetacular • Musidisc • LP
(1964) A volta • Musidisc • LP
(1963) Ed lincoln • Musidisc • LP
(1962) Uma noite no cangaceiro • RGE • LP
(1961) Ao teu ouvido • Helium • LP
(1961) Ed Lincoln boate • RCA Victor • LP
(1955) Amanhã eu vou/Nunca mais • Musidisc • 78
Bibliografia Crítica
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 2. São Paulo: Editora: 34, 1999.

Um comentário:

  1. Realmente, o Rei dos Bailes. Tínhamos que chegar cedo e entrar na pista na primeira música, senão .............. Tempos bons ......... Muita saudade ... Eu vivi e dancei muito .......

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