terça-feira, 29 de março de 2016

Tom Zé - Vira Lata na Via Láctea (2014)


01 - 00:00 "Geração Y"
02 - 03:49 "A Quantas Anda Você?"
03 - 06:47 "Banca de Jornal"
04 - 10:10 "Cabeça de Aluguel"
05 - 15:45 "Pour Elis"
06 - 18:15 "Esquerda, Grana e Direita"
07 - 21:39 "Mamon"
08 - 24:59 "Salva a Humanidade"
09 - 29:22 "Guga na Lavagem"
10 - 32:38 "Irará Irá Lá"
11 - 36:04 "Papa Perdoa Tom Zé"
12 - 38:41 "Retrato na Praça da Sé"
13 - 42:33 "A Boca da Cabeça"
14 - 45:25 "A Pequena Suburbana
Resenha de CD
Título: Vira lata na Via Láctea
Artista: Tom Zé
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * *
 Artista que se (re)alimenta da experimentação e da habilidade para o desbravamento de caminhos musicais ainda inexplorados, Tom Zé cresce na anarquia e se apequena na via da normalidade. Essa inadequação do baiano para o canto de melodias mais tradicionais salta aos ouvidos em vários momentos de seu 15º álbum de inéditas, Vira lata na Via Láctea. Basta ouvir o bom samba Banca de jornal - composto e cantado por Tom Zé com o rapper paulistano Criolo - para perceber que o samba, cuja letra faz engenhoso jogo de palavras com nomes de jornais e revistas, é talhado para um cantor hábil a fazer o papel de crooner, função a que Tom Zé nunca se adequou e à qual, diga-se, tampouco procurou cortejar. É para um crooner como Milton Nascimento que nasceu uma boa canção como Pour Elis, parceria de Tom Zé com Fernando Faro, criada em 1983 sob a dor da saudade da cantora Elis Regina (1945 - 1982) e enfim gravada em Vira lata na Via Láctea com a adesão vocal de Milton. Produzido por Daniel Maia sob a direção artística de Marcus Preto, o disco soa (quase) normal, tangenciando o formato da MPB cristalizada na era dos festivais que projetaram o baiano tropicalista. Por seu espírito indomado, jovial, Tom Zé se afina com os músicos da nova geração recrutados por Preto para o disco. Músicos do trio O Terno, da Filarmônica de Pasárgada - banda cujo líder Marcelo Segreto assina com Tom Zé Guga na lavagem, ótimo momento-fuzuê do disco - e da Trupe Chá de Boldo formatam com propriedade e com naturalidade o cancioneiro de Tom Zé. Mas o fato é que o CD soa mais natural quando Tom Zé é mais Tom Zé, como nas faixas Mamon - música engrandecida pela programação pilotada por Silva com o artista - e Esquerda, grana e direita, músicas da lavra solitária (e normalmente autossuficiente) do compositor. Só que há instantes em que as músicas parecem melhores do que o cantor, caso de A quantas anda você? (Tiago Araripe). Parceria de Tom Zé com o artista plástico Elifas Andreato, Salva humanidade é a mesma música já gravada - com mais graça e com a participação do próprio Tom Zé - pela cantora Érika Martins com o título de A curi em seu pouco ouvido álbum Modinhas (Coqueiro Verde Records, 2014). Já Irará irá lá (Tom Zé) e Papa perdoa Tom Zé (Tim Bernardes) vem do EP digital Tribunal do Feicibuki (Independente, 2013), lançado pelo artista há um ano. Se a voz fraqueja dentro da normalidade, o discurso soa geralmente antenado, como Geração Y (GY) (Tom Zé e Henrique Marcusso) prova já na abertura do disco, encerrado com a primeira parceria de Tom Zé e Caetano Veloso, A pequena suburbana, canção gravada coma adesão de Caetano e valorizada pela simbiose entre letra e música. Aos 78 anos, Tom Zé se vira em Vira lata na Via Láctea, disco que parece trilhar o caminho da normalidade, na contramão da alma do artista, vocacionada para buscar o inesperado.

"Desde 76 os discos que faço têm sido cozinhados numa só panela e por um só assunto-tema.
Agora, lembrando a arquitetura das igrejas românicas do século XI, este cd se apresenta com Capelas Irradiantes, construídas em torno de uma edificação central, cada uma abrigando uma parte do culto – aqui cantado e profano.
As Capelas Irradiantes (nome que a gente repete com prazer) foram construídas em estilo e arquitetura muito variados e nós, neste disco, embora recorrendo apenas a texturas sonoras, também atacamos o tédio com bárbara ojeriza*.
Não foi um plano. Diante da arrancada que a direção artística de Marcus Preto engatou, a forma irradiante se impôs com a presença de estilos apartados como os de Milton Nascimento, Criolo, Tim Bernardes, Trupe Chá de Boldo e Caetano Veloso (a primeira parceria que fazemos e – cantamos juntos).
Elis Regina inspirou a presença de Milton: eu transformara em canção um texto escrito por Fernando Faro, como introdução de um vídeo, no primeiro aniversário da morte dela.
Marcelo Segreto e sua Filarmônica de Pasárgada, Tim Bernardes (O Terno) e a Trupe Chá de Boldo, ao lado de Tatá Aeroplano e Gustavo Galo, trouxeram para o disco a Geração Y, esta já no ensaio geral do que Santaella chama de pós-humano.
Nessa puxada, podemos chamar a vestimenta feita por Kiko Dinucci – arranjos secos e descarnados – para Retrato na Praça da Sé e o samba-editorialista Banca de jornal – uma pós-partitura-em-crise.

O disco foi gravado por essas diversas bandas e cantores, mas vou lançá-lo e arrodear o planeta com o meu próprio conjunto: Daniel Maia, produtor, técnico, alguns arranjos, guitarra, violão e baixo; Cristina Carneiro, teclado e vocal; Jarbas Mariz, viola de 12, cavaco, percussão e vocal; Felipe Alves, contrabaixo, violão, cavaco e vocal; e na bateria, o calouro da banda, Rogério Bastos, também tratado por Rogério Duprato.

OJERIZA (Houaiss): s. f… … aversão, antipatia … …"
-Tom Zé

Um música que destaco nesse CD é  A quantas anda você? do cantor e compositor cearense Tiago Araripe vale apenas vocês ouvirem essa faixa, que podem ser ouvida no Youtube.

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